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segunda-feira, 22 de junho de 2015

As Minhas Leituras - Batman: O Longo Halloween

Se há paradoxo criado pelo Homem é dizer que algo é perfeito. Obviamente que por muito boa que qualquer coisa seja há uma certa falha que a tone apenas espetacular. Tomemos por exemplo O Padrinho de 1972 ainda hoje conhecido como um dos melhores filmes de sempre pelo seu enredo bem construído, realização cativante e artística e atores absolutamente brilhantes. Um filme destes (que chegou mesmo a receber 100/100 no Metacritic) é ainda lembrado como um excelente filme mas muitos críticos encontram algumas falhas como o foco demasiado grande em certos momentos do filme deixando muitos acontecimentos importantes de lado mas quase toda a gente admite que é um dos melhores filmes já feitos. E porquê? Porque sabem que serão muito poucos os filmes a chegar à altura desta obra. A sua sequela (O Padrinho - Parte II), Os Condenados de Shawshank, Pulp Fiction ou O Cavaleiro das Trevas chegaram bastante perto mas este continua a ser considerado o melhor filme de sempre. E é perfeito? Obviamente que não. Mas a perfeição nunca será atingida, seja no cinema, seja em qualquer outra área.

E os livros de hoje são exatamente isso: extremamente próximos da perfeição. É esta obra o espetacular O Longo Halloween, considerada uma das melhores minisséries dos anos 90 e uma das melhores histórias com Batman no principal papel. Foi desenvolvida pela conhecida dupla Jeph Loeb/Tim Sale, também autores das minisséries das "Cores" para os heróis da Marvel e da coletânea de one-shots, Batman: Haunted Knight. Sem fazerem parte da dupla, Loeb distinguiu-se ao escrever grandes histórias na revista Superman/Batman e Sale na história Superman Confidential.

Capa de uma das edições mais conhecidas

Passando para "O Longo Halloween": a história passa-se pouco depois de Ano Um, já analisada aqui no blog quando Gotham City se vê mergulhada numa onda de assassinatos contra as duas principais famílias ligadas à Máfia da cidade, a de Maroni e a de Falcone, todos realizados nos dias de feriados. O assassino desconhecido foi denominado Feriado devido a esta sua idiossincrasia. Batman, o Comissário Gordon e Harvey Dent tentam que este assassino seja apanhado antes do feriado seguinte para não haver mais mortes. Com eles, muitos vilões procuram também este Feriado pois todos são de alguma maneira bloqueados por esta maré de crimes. Rebenta também uma guerra de famílias entre os dois chefes afetados e o stress é muito em Batman e nos seus dois companheiros de métodos diferentes. Gera-se assim uma longa história de crime cheia de tensão, cenas excelentes e um grande mistério em volta da identidade do assassino.

Em termos de personagens, estes livros brilham. Batman apresenta-se um heróis musculado e com um pormenor muito do meu agrado: capa longa. Mas face a toda a situação em que Gotham se encontra, o seu aspeto de herói musculado é exatamente o oposto da sua mente, acelarada e pressionada pelo destino da vítima deste assassino seguinte. Com as histórias paralelas como a perseguição ao Joker ou um romance com a Mulher-Gato, Batman ganha uma densidade exclusiva desta história, fazendo dele uma das minhas personagens fictícias preferidas de sempre.
Harvey Dent surge nestes livros como um homem determinado a apanhar o Feriado mas sempre com um lado humano muito importante para tentar fugir ao herói que Batman é. Tem um objetivo e, apesar de querer mais do que qualquer outro que Maroni e Falcone se destruam, tem de fazer tudo para que este assassino seja apanhado.
Como ponto médio entre estas duas personagens está Jim Gordon, também determinado a apanhar o Feriado com a ajuda do detetive e do Procurador. Como Batman, está a trabalhar o máximo que pode para que o Feriado seja parado e como Dent, odeia esta missão por ter de proteger dois dos maiores criminosos da cidade que jurou proteger. Tem ainda o aspeto bastante interessante e indispensável à narrativa: o lado familiar e de por a sua mulher e filha à frente do trabalho e de toda a cidade, algo que Dent também fez, apenas não na mesma magnitude.
Sinceramente, só as personagens principais estão mais bem exploradas nesta minissérie do que na maioria das histórias em banda desenhada. Isto sem contar com o grande conjunto de personagens secundárias como os dois chefes do crime organizado da cidade; o louco vilão Calendário; o tenebroso Solomon Grundy e a apaixonada Mulher-Gato, que desempenha um papel central em vários capítulos.

Capa do primeiro volume na edição porutguesa

Em termos de arte, esta obra tem o traço típico de Tim Sale. Há uma grande utilização de técnicas como o contraste de cores e o uso da sombra é usado de uma maneira esplêndida. Cerca de metade das pranchas podem ser utilizadas como quadros devido ao detalhe e nível de visão por parte do artista. Facilmente um dos melhores artistas de banda desenhada que já vi até hoje e uma das melhores combinações história-desenho da nona arte. Felizmente a dupla tem uma grande bibilioteca de obras espetaculares e umas quantas incluem o Batman.

Pessoalmente, esta é a obra mais próxima da perfeição que já li até hoje e passou a ser a minha banda desenhada preferida de sempre. Por que é que não chega à perfeição: pela mesma razão do prefácio: a perfeição é impossível de alcançar. Mas se fosse possível, viria numa forma um pouco melhorada de "O Longo Halloween". Até se relaciona com O Padrinho em termos de temas e nas várias referências como a cena inicial ser um casamento, é muito usado o brilho através das persianas e a frase inicial da banda desenhada é baseada numa das falas desse filme: "Eu acredito em Gotham", substituindo na frase original a palavra América pela cidade defendida por Batman.
Não consigo deixar de vos recomendar esta tão maravilhosa saga. Um dos meus realizadores preferidos de sempre, Christopher Nolan disse: "O Longo Halloween é muito mais que uma banda desenhada. É uma tragédia épica." Por muito que concorde, tenho de acrescentar o seguinte: O Longo Halloween é muito mais que uma tragédia épica. É uma obra tão bem concebida, tão bem explorada, tão bem escrita e tão bem desenhada que é impossível não ser uma das grandes histórias dos anos 90.

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