Felizmente, ao longo dos últimos anos, a publicação de banda desenhada em português tem crescido bastante. Editoras como a Levoir, a G Floy ou a Devir têm cada vez mais aumentado o número de publicações em território nacional e muitas grandes obras estão agora disponíveis dos super-heróis às novelas gráficas, passando pela ficção científica, pela fantasia, pelo crime e por manga variada. E um desses títulos que mais me interessou foi Paper Girls de Brian K. Vaughan e de Cliff Chiang, contando com as cores de Matt Wilson. Ainda só saiu o primeiro volume em português, lançado na Comic-Con do ano passado pela Devir. Depois de vários meses, decidi aproveitar as promoções de 20% em livros que a Fnac fez no passado fim-de-semana e adquirir este volume e uma outra banda desenhada que terá direito a uma análise num futuro próximo.
E de que trata Paper Girls - Volume 1? A história tem como protagonista Erin Tieng, uma rapariga que vive com a sua família de classe média nos subúrbios de Stony Stream, Na noite de Halloween de 1988, Erin levanta-se de madrugada para distribuir jornais, como costuma fazer mas é atacada por uns adolescentes. Nesse instante surgem Mac, Tiffany e KJ, outras entregadoras de jornais que a ajudam. Ao fim de uma introdução, as quatro decidem fazer a entrega juntas, para se conhecerem melhor.
Mas o que sucede é que essa madrugada sofre acontecimentos fantásticos como aparições de dinossauros, visitas de viajantes no tempo e desaparecimentos misteriosos de pessoas. No resto da história, as quatro tentam desvendar o que quer que possa estar a acontecer, enquanto o leitor faz o mesmo, dado que há momentos que nos fazem sentir perdidos na quantidades de incidentes sobrenaturais que estão a surgir.
Achei que o livro é excelente mas notei alguns pontos negativos. O primeiro é a confusão provocada ao leitor pela falta de explicações, associado ao facto de o livro não ter uma verdadeira conclusão, deixando que os números seguintes possam clarear certos acontecimentos. Houve demasiadas cenas sem verdadeiro impacto na história completa, que quase que só serviram para introduzir personagens sem as desenvolver, deixando-me curioso com as mesmas, mas não o suficiente para sentir a sua falta. Penso que há um grande desequilíbrio no desenvolvimento das quatro raparigas principais. Erin é a mais desenvolvida, como seria de esperar; Mac tem bons momentos de história própria, que espero que tenham seguimento no próximo volume; Tiffany tem uma cena que mudou a minha perceção dela e que a tornou bem mais interessante, espero também que continuem o bom trabalho que estão a ter com ela; e por fim, KJ, tem um desenvolvimento quase inexistente. Toma certas atitudes bastante curiosas ao longo da obra mas não tem nenhum traço que a demarque do resto das outras protagonistas.
Em termos de pontos positivos, a minha lista é demasiado grande para a referir na íntegra, sinceramente. Por isso, irei apenas referir as melhores qualidades da obra. A arte é simplesmente bonita: Chiang cria um ambiente com o seu traço influenciado pela banda desenhada asiática e as cores de Wilson dão um estilo memorável à obra. Os dois conseguem fazer painéis inteiros sem uma palavra, com excelentes momentos e a passar toda uma estética que seria dificilmente atingível com o texto a acompanhar as ilustrações. A premissa da história também é muito interessante, conseguindo abordar temas clássicos da ficção científica, dando-lhes mais vivacidade pelos temas Bíblicos e temas de conspirações adjacentes. Também o ritmo da história é muito bom: Há cenas de ação e de tensão que fazem o leitor ficar colado ao livro mas sempre equilibrados por momentos de diálogo entre as nossas heroínas ou por uma cena que nos leva para outro local da cidade, com personagens que apenas servem para nos dar a conhecer um certo acontecimento (se bem que esta não seja a melhor escolha, na minha opinião). É também um livro que remonta para a infância, já que as protagonistas têm apenas 12 anos, lembrando qualquer um dos tempos mais simples e mais aventureiros da nossa vida.
Para mim, é um livro que vale a pena ler, especialmente por estes aspetos mencionados. Mesmo o lado mais negativo é quase inteiramente baseado em pequenos pormenores que em nada influenciam a experiência global que se tem da obra. Recomendo-o então a todos os que apreciam uma história que nos traga nostalgia, um sentimento de aventura e momentos de elevada tensão que prendem os leitores mais interessados.
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