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quinta-feira, 23 de julho de 2015

As Minhas Leituras - Batman: Presa



No dia em que começa a nova coleção da Levoir, que, por sinal, é prometedora, estou eu ainda a meio das minhas análises à coleção anterior, dedicada inteiramente a Batman.

Se houve revista que fugiu à regra universal que se consolidou na comunidade de fãs de banda desenhada de que os anos 90 foram um enorme falhanço em termos de comics americanos, apoiemos ou não esta ideia, foi Legends of the Dark Night (apesar de admitir que fui tremendamente injusto ao explicitar no início da frase que esta foi a única ou das únicas). Com a história Gótico, já publicada nesta coleção e analisada no blog a preceder diretamente esta em termos de publicação mas não cronológicos, ficamos com duas das melhores histórias dos anos 90 nesta coleção. Mas apesar de serem do mesmo ano e terem sido publicadas na mesma tão aclamada revista, diferenciam-se em tudo: Gótico, dos mestres Grant Morrison e Klaus Janson, traz um inimigo novo, único, até e lida com temas negros associados à religião e a uma história sem fronteiras, quer físicas, quer temporais. Esta Presa, assinada por Doug Moench e Paul Gulacy, trata mais da psique do Homem-Morcego, analisada pelo especialista em psicanálise, Hugo Strange, um vilão recorrente nas revistas Batman e Detective Comics dos anos 50 e que é aqui recriado numa forma estranha e medonha, mas sem perder o efeito da comicidade que os comics em que apareceu tinha em demasia.

Em Presa, apesar de Batman não querer admitir, está a ficar atingido por todos os comentários e análises que Strange lhe faz, caminhando até quase adivinhar a sua identidade. Mas pelo meio, vira a imprensa e o público contra o herói e cria uma força anti-vigilante, cuja primeira missão é eliminar o Batman.

Mas não é a história em si que eleva esta saga ao estatuto de clássico do Cavaleiro das Trevas. O que realmente faz desta algo de genial é toda a trama vista do lado de Batman, que tenta ignorar os comentários do psicanalista e prosseguir com o seu trabalho, de Hugo Strange, levando-o a criar uma caça às bruxas ao vigilante e do lado de James Gordon, na altura ainda capitão da Polícia de Gotham e que tem de ficar do lado de Strange publicamente mas secretamente ajuda Batman a esconder a sua identidade.

Há ainda o excelente ponto do Fagelo da Noite, a identidade de Max Cort, o responsável pela caça ao Batman que, quando hipnotizado por Strange segue uma carreira de vigilante, se bem que mais violento do que Batman. Mas claro que a ideia da criação de um vilão para defrontar o herói é quase tão velha como a ideia dos heróis e dos vilões em si mas aqui há uma certa ironia por ter sido o próprio revoltado Hugo Strange que sente na verdade inveja e não qualquer outra coisa. Há um ódio crescente em Strange por Batman e pelos ideais que representa que o leva ser como é. E isto torna-o espetacular na humilde opinião deste crítico.

Realmente a história é muito boa e só tenho o problema da história paralela de Selina Kyle nos seus primeiros anos como Mulher-Gato que se torna um bocado desnecessário até um ponto avançado da narrativa onde, se pensarmos mesmo até ao fundo da questão, não é tão importante quanto isso.

Na parte da arte, tenho de parabenizar Paul Gulacy, um artista cuja arte nunca me tinha chegado às mãos nem aos olhos, mas de que gostei bastante. A figura humana foi muito bem estudada e nas cenas de ação há uma ideia de movimento dada pelas várias vinhetas sequenciais, um aspeto muito interessante. A cidade que desenhou é que por vezes parece ter pormenores que nunca existiriam em Gotham como enormes filas de carros, algo muito pouco realista. Mas talvez do ponto de vista do desenhador, este aspeto até pudesse ser importante para mostrar a diferença entre a Gotham destes primeiros anos em que Bruce Wayne foi o Batmna e Gotham dos tempos que os leitores acompanhavam em títulos normais como Batman e Detective Comics.

Na minha opinião, esta é realmente uma das melhores histórias do Batman que li até hoje e fiquei rendido a esta dupla de criadores. Quero não só ler mais trabalhos deles individualmente como procurarei outras obras que tenham desenvolvido juntos. Aconselho completamente a leitura desta quase brilhante obra e, boa notícia, o sistema de nota voltou às Reviews e às As Minhas Leituras, desta vez com uma nota de 0 a 100, onde vou tentar ser mais rígido do que da última vez que usei este sistema, ortanto não gostava que comparações fossem feitas com as anteriores notas.
Este livro, para começar em grande recebe um maravilhoso 80, principalmente pela excelente história com um valor de releitura algo alto, desenhos muito bem feitos e um vilão re-imaginado e que garante uns pontos extras à obra.

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